quinta-feira, 11 de novembro de 2010

COMPARAÇÃO dos modelos PROGRAMÁTICOS das LISTAS candidatas aos ORGÃOS NACIONAIS da OA (2011/2013):

O ASSUMIR DAS DIVERGÊNCIAS

Apresentação das Listas: apoiantes ilustres versus anónimos
A Lista A segue o modelo tradicional de suporte da candidatura, convocando nomes consagrados e figuras tutelares como apoiantes e evidenciando a sua submissão à lógica de arquitecto/autor e o afastamento da realidade da classe, suas formações, suas práticas e sobretudo, suas necessidades e expectativas.
A Lista B, pelo contrário, assume a diferenciação relativamente aos modelos passados, apostando no anonimato e, em particular, na sua capacidade para representar a classe na sua multiplicidade e diversidade - profissionais, culturais, geracionais e/ou outras.
Missão: descodificar a aparente convergência
A Lista A afirma como lema a “ARQUITECTURA PARA TODOS”, secundado pelas preocupações de “enfrentar a crise, construir o futuro”, enquanto a Lista B aposta no “MUDAR A ORDEM, REFORÇAR A PROFISSÃO, PELOS ARQUITECTOS, PELO INTERESSE PÚBLICO”. Estas declarações parecem sugerir compatibilidade entre as listas no que respeita a democratização social da Arquitectura (para toda a sociedade) e repartição das oportunidades do mercado entre associados (para todos os profissionais). Haveria então que perguntar à Lista A: Que Arquitectura, Que Arquitectos, Como e para Quem?
De facto, a Lista A valoriza o “enfrentar a crise”, integrando medidas directas e dominantemente orientadas para a intervenção no mercado (encomenda, marketing, contactos internacionais, pressão institucional), e “construir o futuro”, expressão abstracta e enigmática, sem tradução directa nas linhas de acção ou medidas. Está implícita a noção de que a OA pode ser uma plataforma de dinamização do mercado cabendo, mais uma vez, questionar a Lista A quanto à actual promiscuidade entre o núcleo próximo da direcção da Ordem e o mercado?
A Lista B aposta na afirmação da profissão, dos arquitectos e do interesse público. Privilegia, como desígnio fundamental desta candidatura, a dignificação da profissão nos seus diferentes modos de exercício, a defesa da diversidade dos associados, destacando a importância do interesse público da actividade do arquitecto (em detrimento da batalha pelo acesso ao mercado). Com uma perspectiva muito mais abrangente da actividade, pretende valorizar lógicas profissionais que se desenvolvem para além do projecto e representam a grande maioria dos membros. 
Texto de Orientação Estratégica: as diferenças de posicionamento
A Lista A assume uma estratégia de continuidade, iniciando o seu texto com um elogio ao anterior mandato, deixando logo em aberto a capacidade de alterar o rumo no próximo triénio. Declara a importância da selectividade das acções a empreender, facto contradito pelo Programa extenso e pouco focalizado, não demonstrativo da coerência entre o texto geral e as linhas de actuação. Finalmente, valoriza a união de “facções” nunca antes reunidas e a diversidade da equipa quando esta se mantém centrada em associados ligados dominantemente à actividade de projecto de arquitectura em contexto liberal, muito sujeitos à lógica da autoria e da afirmação de protagonismos junto do mercado à custa da sua inserção na Ordem.
A Lista B tem uma lógica de ruptura e reforça a necessidade de mudança. Denuncia o desconhecimento da anterior direcção relativamente à realidade da classe e demonstra preocupação com sectores profissionais até aqui totalmente marginalizados nas estratégias da Ordem, em articulação com o imperativo de afirmar a defesa do interesse público da arquitectura. Aposta na dignificação das condições de trabalho da grande maioria dos membros, actualmente muito degradadas e sem qualquer defesa. Propõe uma equipa muito diversa ao nível das formações, das práticas, das gerações e declara a sua abertura para trabalhar com os outros órgãos eleitos.
Eixos e Linhas de Actuação: distinguindo os enfoques
No caso da Lista A, os eixos/linhas de actuação são muito “enxutos” e complementados pela listagem de medidas, traduzindo-se num Programa muito extenso mas aparentemente mais operacional. Inversamente, a Lista B desenvolve os conteúdos substanciais de cada eixo e linha de actuação, assumindo um Programa mais orientado por princípios, valores e objectivos. Genericamente, os dois primeiros eixos estruturantes da Lista A centram-se no mercado e nas condições de exercício da profissão, equivalendo às matérias tratadas no Eixo 1 da Lista B. O 3º e o 2º respectivamente das listas A e B tratam das políticas públicas, sendo o último eixo de ambas as listas dedicado aos serviços da Ordem. Comparando conteúdos, dir-se-ia que:
·         A leitura crítica dos 1º e 2º eixos da Lista A evidencia sobreposições mas, sobretudo, a focalização do Programa na abertura do mercado do projecto de arquitectura e na melhoria das condições de exercício da profissão mas também na óptica da prática tradicional (construção/edificação, seguros, autorias).
·         O enfoque da Lista B é, em particular, na abertura do mercado de emprego e valorização e apoio às diferentes formas de exercício da profissão, dando particular destaque aos jovens arquitectos e aos arquitectos da Administração Pública.
·         O 3º eixo de ambas as listas trata, no essencial, das políticas públicas e da divulgação da arquitectura junto de várias instâncias. As principais distinções entre os Programas assentam na integração neste eixo, por parte da Lista B, das questões associadas ao reforço do papel da OA na defesa da encomenda pública e, por parte da Lista A, das acções de divulgação preconizadas, com uma lógica de total continuidade relativamente à prática actual (públicos restritos, autores “consagrados”, arbitrariedade da selecção, total desajustamento relativamente à realidade e expectativas da classe).
·         O último eixo de cada uma das listas dedica-se às questões de organização interna da OA, sendo que a Lista A aponta várias medidas de reforço de eficácia dos serviços financeiros e de comunicação com os associados enquanto a Lista B integra neste eixo as acções associadas à política cultural e a defesa de uma ruptura relativamente às anteriores práticas nesta matéria.

DUAS LISTAS, DOIS PROGRAMAS, DUAS EQUIPAS, DUAS VISÕES DO PAPEL DA ORDEM NA DEFESA DA ARQUITECTURA E DOS ARQUITECTOS PORTUGUESES

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